domingo, 27 de março de 2016

Dólmen da Capela de Nossa Senhora do Monte

O nome é bastante esclarecedor - trata-se de um monumento funerário com cerca de 5000 anos sobre o qual na idade média (possivelmente no século XV) foi construída uma capela.





À sua preservação ajudou o dólmen ter estado enterrado até à sua escavação arqueológica, nos início dos anos 90.


Perto fica outro dólmen, o do Carvalhal.


sexta-feira, 18 de março de 2016

Castelo de Penedono


O artigo que vou citar é da autoria de Manuel António Lourenço de Campos Almeida e é baseado num livro de João Ferreira da Fonseca:
(...) à semelhança da torre de menagem do castelo de Trancoso, identificada como antigo castelo condal do século X, também o castelo de Penedono teria começado por ter uma única torre, edificada nos penhascos, depois ampliada após as campanhas do rei leonês Fernando Magno, nos fins do século XI, princípios do século XII. 



A existência dos traçados mais antigos, com muros de altura mais reduzida, cerca de metade dos atuais, de recorte ameado de secção rectangular e com aberturas de pequena dimensão, é denunciada pela observação atenta das paredes das muralhas. A muralha antiga acompanhava e contornava o terreno fragoso, formando um pequeno pátio interior, capaz de abrigar uma pequena hoste. 


Após a crise de 1383-85, o castelo de Penedono foi muito beneficiado por obras de remodelação, dotando-se de melhores condições de defesa e de habitabilidade. Sobre as muralhas ancestrais foram erguidos novos muramentos, elevando a cota da altura da fortaleza. Para suportar e melhor distribuir o peso das novas muralhas, as paredes do castelo foram alargadas e coroadas com ameias, terminadas em forma pentagonal, intercaladas por aberturas. Nas arestas foram construídos cinco torreões de planta diversa. Outra das inovações introduzidas foi a barbacã, estabelecendo um perímetro muralhado, contornando a formação rochosa onde assenta o castelo, a partir do preenchimento das falhas entre os rochedos, e que passou a ser uma primeira linha de defesa. 



Os castelos condais serviram também como moradias das elites nobiliárquicas, mas, com o advento de tempos mais pacíficos, estes nobres mandaram construir novas residências, edifícios mais amplos e confortáveis, o que também aconteceu com os senhores de Penedono, Gonçalo Vasques Coutinho e seus descendentes, que passaram a privilegiar a comodidade dos paços da sua linhagem, em vez do desconforto e singeleza dos diversos castelos que possuíam. Assim, o castelo de Penedono passou a estar mais voltado para funções estritamente militares e nele estaria uma pequena guarnição formada por escudeiros, besteiros e peões, comandada por um alcaide, homem de boa linhagem e de confiança. Indispensáveis ao castelo eram ainda alguns mesteirais como carpinteiros, ferreiros e armeiros, que zelavam pela sua conservação e funcionamento. Os diversos cunhos abertos nas paredes do castelo atestam e evocam os fortes caibros que suportavam o interior, entretanto desaparecido. Essas marcas sugerem que o castelo possuía três pisos interiores: – rés-do-chão, primeiro andar e segundo andar, pelos quais se distribuíam os espaços habitáveis. 



O piso térreo, ao qual se acedia pela porta principal, incluiria o cárcere, um pequeno estábulo e ainda algumas arrecadações para palhas, lenhas, adega e tulha de cereais. Por uma escadaria interior talhada em pedra, acedia-se ao primeiro andar, onde se encontraria o salão principal, munido de janelas, que era o espaço mais importante, onde o senhor ou o seu alcaide recebiam e tratavam da administração e dos negócios, tomavam decisões e festejavam com visitas e amigos. Neste piso poderiam ainda existir pequenas câmaras e antecâmaras, separadas por paredes de madeira ou de taipa e, para se sobreviver às invernias, ali se encontrava a lareira. Uma outra escada dava serventia ao segundo andar, construído aquando da ampliação das muralhas. Aí se encontravam acomodações mais privadas, limitadas por paredes de madeira ou de taipa, acessíveis por estreitos corredores. Do último andar acedia-se ao caminho da ronda ou adarve, que circundava todo o castelo e era palmilhado pelas sentinelas.

Este castelo chegou até nós bem preservado, no entanto em 1940 o Estado Novo foi responsável por algumas modificações, sobretudo ao restaurar as ameias (nas fotos de baixo a maioria já está restaurada mas duas ainda não) e retirar construções superiores (podemos ver um sino, um barraco e as escadas de acesso).



Em 1953 foram colocadas as guardas de proteção em alguns sítios, sendo que só muito recentemente se colocaram a todo o perímetro. Isto não evita algumas quedas que de vez em quando acontecem neste castelo.


quinta-feira, 10 de março de 2016

Da identidade

Tem havido bastante polémica devido ao restauro da torre do castelo de Matrera, em Espanha.
Esta foi a intervenção:


Devo dizer que isto me deixa muito aborrecido. Isto porque não se ouviam estas vozes de protesto durante o processo de derrocada da torre, que ficou reduzida a pouco mais que parede e meia:

Só as ouvimos agora, quando houve finalmente uma intervenção. Sem ela, o pouco que resta da torre duraria poucos mais meses.

Este fenómeno altamente nocivo de mistificação do património é transversal a todos os monumentos - tratamo-los como falsos ídolos, apesar de tantas vezes serem resultado de intervenções recentes (como os restauros dos castelos portugueses entre 1938 e 1942), para que possamos mostrar uma identidade artificialmente construída no lugar da que não temos.

Em Peniche aconteceu um caso parecido há dois anos, quando a autarquia decidiu pintar a fachada da Fortaleza. Trata-se de um edifício que era originalmente pintado, com a mesma cor e a mesma técnica da que lhe foi restituída.
A câmara de Peniche participou passivamente em muitas destruições nos últimos anos, ao aprovar projetos que danificaram irreversivelmente monumentos da cidade (por exemplo, Convento do Bom Jesus e Linha dos Moinhos). Ninguém apontou lhe o dedo nessas ocasiões. Apenas quando teve uma atitude positiva no restauro de um monumento.

O que fez chegar os nossos monumentos até nós não foi o sentido altruísta em os salvaguardar, foi a utilidade que tinham para a geração presente. Os nossos castelos foram construídos enquanto equipamentos de defesa passiva, e posteriormente transformados em centros de poder. Quando a defesa física do território foi alcançada deixaram de fazer sentido e a maioria foi abandonada ou demolida para aproveitamento do material de construção. Foram recuperados em meados do século passado porque fazia parte da ideologia do Estado Novo dar-nos a sensação de uma falsa autonomia que servisse de justificação para a nossa crescente alienação dos outros povos.

Ao procurarmos egoístamente e insensivelmente preservar a ruína dos nossos monumentos, independemente do risco que isso apresenta para a sua conservação, estamos a apoderar-nos de algo que não é só nosso, é produto das gerações passadas e pertence às futuras. São elas a nossa verdadeira identidade.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Quinta da Melhor Vista, Verride, concelho de Montemor-o-Velho

A verdadeira ruína de Verride é o Convento de Almiara, mas ao que parece está repleto de morcegos e cavalos, pelo que por agora vou dispensar.

Outra ruína, sobranceira à povoação, é a Quinta da Melhor Vista, possivelmente do século XVI, que é habitada por cegonhas, habituais na região.


Devido ao seu interior estar repleto de vegetação, o máximo onde consegui chegar foi o acesso para o primeiro andar.


E deu para tirar esta foto, que fica para mais tarde eu a editar e meter no Olhares.


O aspeto do edifício é ainda hoje bastante imponente, apesar de há pouco tempo o primeiro andar da fachada ter sido demolido (provavelmente por haver perigo de derrocada).
A sua fachada era assim [fonte]:


E hoje [fonte]:



Apesar de tudo as ruínas sempre vão encontrando algum uso:



segunda-feira, 7 de março de 2016

Termas da Amieira, concelho de Soure

Começamos por uma resenha histórica retirada daqui.

Desde de finais do séc. XVIII, até a construção do Balneário em 1885, os doentes tomavam banho em poças que abriam no terreno pantanoso.
Lopes (1892) descreve-as: “Caldas da Amieira, a pouco metros do apeadeiro de caminho-de-ferro […] tem um pequeno número de fogos, capela e o estabelecimento explorador das águas […] As nascentes aparecem na vertente de uma montanha, à beira de uma enorme planície, atravessada a norte pelo Rio Pranto […] São em número de três, comunicando entre si no espaço em que estão captadas, dão em 24 horas um caudal de 3.891.888 litros […]. A abundância deste manancial permite que as águas sejam aproveitadas para o estabelecimento balnear; para a grande exportação que é feita para todo o Portugal e África, e ainda para lagos cascatas e regas, etc.
Estas águas, que foram as primeiras no nosso país classificadas como cloretadas, e que pela sua composição e excelente forma de captagem têm merecido prémios em todas as exposições a que tem concorrido, apresentam na origem 20º de temperatura. São porém, cuidadosamente aquecidas por uma máquina a vapor, a fim de sem alteração da sal virtude curativa e da sua constituição poderem ser usadas nos banhos medicinais. 

Descreveu depois os balneários: “ Várias classes de banhos com 19 tinas, piscina, e os mais modernos aparelhos para todo o género de duches…” Contava ainda com uma oficina de enchimento de garrafas que “exportava para diferentes pontos do país e para África”. 
Sarzedas (1907) considerou-as das mais frequentadas do país, com uma média de 1200 a 1300 aquistas ano.

Sabemos pelos relatórios de Acciaiuoli das décadas de 30 e 40, que deixara de funcionar o hotel, hospedando-se os aquistas na Figueira da Foz. A sua frequência era cada vez menor, no ano de 1946 teve 338 inscrições das quais 76 foram gratuitas, a razão principal deste afastamento atribuía o autor à cultura do arroz nesta região palúdica. 
No Anuário(1963) o balneário é classificado como modesto do tipo rural, quanto aos arrozais comenta: “A região está presentemente isenta de mosquitos devido á acção das brigadas anti-sezonáticas de Montemor-o-Velho”. Mas a decadências destas termas já era notória o parque e capela anexa encontravam-se “desprezados”.

À entrada existe um conjunto de bicas ainda muito utilizados atualmente para encher garrafões. Recentemente, foram adicionadas vigas metálicas para impedir o desabamento do teto.



Os edifícios à volta são os antigos balneários, onde os utentes tomavam os seus banhos. Hoje em dia o terreno está cheio de vegetação (sobretudo silvas), o que torna difícil o acesso. 



No entanto, há dez anos o estado era bastante diferente, com o entulho de uma recente demolição à vista [fonte]:


Em todo o complexo, o único edifício que mantém cobertura (o dos balneários aparenta ter sido demolido e os restantes edifícios tinham teto em madeira e arderam) é o que deverá ter sido a casa das máquinas:


Do outro lado da linha do comboio, encontramos o hotel:



Este telheiro é um aproveitamento recente das ruínas:


Há alguns edifícios anexos, cuja função não é identificável:


A capela:


Há ainda uma guarita, como podemos ver neste emocionante vídeo, que nos apresenta alguns mistérios - o maior deles será eu ter filmado com a máquina fotográfica como se fosse um telemóvel:


PS: Tal é a qualidade dos participantes que o YouTube sugere o seguinte vídeo a seguir ao meu:



sábado, 5 de março de 2016

Casais do Júlio, concelho de Peniche


Trata-se de mais uma terrinha no centro do Oeste (NUTS 3).
Tem o moinho mais impressionante que visitei, pois apesar do seu estado de abandono, conserva na íntegra o seu mecanismo, ao contrário dos restantes inativos, que foram convertidos em residência.




Merece também destaque a sua recente igreja:




terça-feira, 1 de março de 2016

Geraldes, concelho de Peniche

Geraldes é mais uma terrinha do litoral português, apresentando alguns singulares "monumentos". Começando pelo toponímia, somos confrontados por esta designação:


No entanto, o castelo em si é da primeira metade do século XX, apesar de ter ganhado na aldeia o estatuto que muitos castelos verdadeiros nunca terão.



A igreja da aldeia é candidata a monumento, mas tem apenas 50 anos. Será que a idade é critério desclassificador?



Mas também encontramos um monumento consensual, a Ermida de S. Sebastião e Santa Luzia, do século XVII.


No entanto este monumento também teve a sua dose de obliterações (para desobstruir o tráfego), já que este era o seu aspeto no início do século passado: